sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Por Onde Andará Macunaíma?

              jogo de dadaísta

não sou iluminista/nem pretender

eu quero o cravo e a rosa

cumer o verso e a prosa

devorar a lírica a métrica

a carne da musa

seja branca/negra

amar/ela vermelha verde

ou cafusa

eu sou do mato curupira carrapato

eu sou da febre sou dos ossos

sou da lira do delírio

e virgílio é o meu sócio

pernambuco amaralina

vida leve ou sempre/vida severina

sendo mulher ou só menina

que sendo santa prostituta

ou cafetina

devorar é minha sina

profanar é o meu negócio

 

Artur Gomes

Juras Secretas

leia mais no blog

https://secretasjuras.blogspot.com/

 

clique no link para v(l)er o vídeo filmado em Gargaú por Letícia Rcha com trilha sonora de Fil Buc

https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8&t=10s

No próximo vinte e dois deste setembro dois mil e vinte e cinco finco os olhos na tela do ArteCult.com para v(l)er por onde andará Macunaíma?, coluna assinada pelo “bardo da cacomanga”. E por onde andará Macunaíma? Pelo polo sul ou norte? Ainda andará nos traços a lápis de José César Castro, o fógrafo/desenhista que não é casto?  Talvez com um pouco de sorte nos encontremos com ele naquela preguiça boa, escre/vivendo/falando poesia pelo litoral de São Francisco onde Itabapoana agora é pedra que voa.

E atenção jovens de Campos dos Goytacazes e região, no dia 27 deste na Casa de Cultura Villa Maria, você tem um encontro marcado com o Encontro Literário – Jovens Em Movimento – estejam atentos estejam alertas - mexam-se leiam pois só o conhecimento liberta  

Artur Gomes (Campos dos Goytacazes-RJ, 1948) é poeta, ator, produtor cultural e vídeo maker, com mais de cinco décadas de intensa atuação nas artes. Criador de projetos que marcaram a cena literária e audiovisual brasileira, como o FestCampos de Poesia Falada e a Mostra Visual de Poesia Brasileira, Artur construiu uma trajetória que une poesia, performance e experimentação multimídia.

Em 2019, lançou o Sarau Balbúrdia PoÉtica, que se tornou um espaço vibrante de celebração da poesia falada e da performance, circulando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. O projeto já realizou onze edições, incluindo participações em eventos de grande destaque, como a Bienal do Livro de Campos, e contou com apoio de instituições culturais e do portal ArteCult.com

Autor de mais de 15 livros publicados, entre eles Juras Secretas (2018), Pátria A(r)mada (2019, Prêmio Oswald de Andrade/UBE-Rio) e O Homem Com a Flor na Boca (2023), e Itabapoana Pedra Pássaro Poema (2025). Artur segue produzindo intensamente e difundindo a literatura contemporânea. Mantém o blog Nação Goytacá, https://arturgumes.blogspot.com/

 onde reúne a série TransPoÉticas – Coletânea de Poetas Vivos, reafirmando seu papel como articulador cultural e voz ativa da poesia brasileira.


Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – zap

@fulinaima @artur.gumes – instagram

fulinaima@gmail.com

arturgomes@artecult.com

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

anjo torto

                             Anjo Torto

eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta

eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora

o Anjo Torto
graças a Zeus
a pedra e ao Machado de Xangô

a Capitã do Mato Caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor 


Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

www.fulinaimamultiprojetos.blogspot.com

27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos

Artur Gomes

Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h

leia mais no blog
Artur Fulinaimagens
https://fulinaimargens.blogspot.com/


Poética 42

 

Era uma menina vestida de outubro
atravessando a rua
com um girassol no seu vestido

suas mãos beijavam o vento
como fossem lábios
de um beija-flor

meus olhos mergulhados
na paisagem
entre os olhos da menina
e o espelho do retrovisor

foto.grafei naquela tarde
a cor do seu vestido
e o girassol daquele dia
para me habitarem
seja lá por onde eu for


dia d


, furai

a pele das partículas dos poemas
viemos das gerações neoabstratas
assistindo a belos filmes de Godart
inertes em películas de Truffaut
bebendo apocalipses de Fellini
em tropicâncer genocidas de terror

, sangrai a tela realista dos cinemas
na pele experimental do caos urbano,
tragai
Dali pele entre/ossos
Glauber rugindo enTridentes
na língua do veneno o gozo das serpentes
nos frascos insensíveis de isopor

,
caímos no poder do vil orgânico
entramos no curral dos artefatos
na porta de entrada os artifícios
na jaula sem saída os mesmos pratos

Pornofônico confesso


se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em letal porno grafia
na sagração da mulher

me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja/devora
palavra por palavra
a fome por dentro e fora
em pornofonia sonora

me diga Lady Senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus
me diga Bia de Dora
num plano lítero/estético
qual humano ou cibernético
que te masturba ou te deflora

Artur Gomes
o poeta enquanto coisa

www.fulinaimargem.blogspot.com

Entrevista com a Psicoterapeuta Isadora Chiminazzo Predebon – continuação

Artur - O Que é Psicofobia?
E até onde ela pode nos levar?

Isadora - A Psicofobia se trata de um preconceito em relação às pessoas que têm transtornos mentais ou deficiências mentais dos mais diversos tipos. Antigamente, relacionava-se com pessoas "endemoniadas", "demônio no corpo", "bruxaria" e entre outras questões. Com o surgimento da psiquiatria e da psicologia e seus estudos e contribuições para a compreensão e tratamento das mesmas, acabou diminuindo um pouco a psicofobia por parte da população.

Mas ainda, no senso comum, pouco se sabe sobre o movimento da Reforma Psiquiatrica, por exemplo, que trouxe com ela novos modos de tratar transtornos mentais (principalmente, os mais graves) e um questionamento ao modelo antigo de "tratamento", quando relacionado aos manicômios ou hospitais psiquiátricos.

A psicofobia pode tanto levar para uma pessoa não buscar tratamento por medo de ser "taxada de louca", como também, inferiorizar pessoas que têm transtornos mentais e que precisam de um tratamento adequado (psiquiátrico + psicoterapia; psicoterapia; tratamento sistematizado, etc). De qualquer forma, a psicofobia atrapalha a busca por tratamento, como também acaba, por falta de informação, negligenciando e inferiorizando ao tratar como "frescura".
A Associação Brasileira de Psiquiatria tem um forte campanha de iniciativa para combater o preconceito à Psicofobia.

Em resumo, a Psicofobia além de dificultar a busca por tratamento, também pode contribuir para taxas de suicídio e intensificação de alguns sintomas

                        Artur Gomes,

um poeta campista no palco da memória

por Deneval Siqueira

Artur Gomes é poeta de longa ancestralidade e forte techné, e sempre nos brinda com sua poíesis de tom ritmado na pesada musicalidade de herança oral. Campista goitacá, em breve, lançará, O Poeta enquanto Coisa, cuja Psicótica – 67 transcrevo abaixo.


Psicótica – 67

com os dentes cravados na memória

não frequento academias
físicas – e muito menos literárias
minha palavra avária
está à beira do precipício
nem sei porque não continuei
internado no hospício
onde choques elétricos aconteciam as tantas
no manicômio Henrique Roxo
na cidade de Campos dos Goytacazes
onde a medicina psiquiátrica
era exercida por capatazes de médicos açougueiros
e um Capixaba de nome Vespasiano
não resistiu ao surto
explodiu a cabeça contra a parede
e nenhum jornal da cidade
noticiou o suicídio
que eu trago na lembrança
com os dentes cravados na memória

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Tendo como marca registrada da sua obra o palimpsesto e o intratexto, onde se confundem a voz do eu-lírico, refundado na memória dos jornais, do noticiário policialesco, na jornada absurda da crueldade a la Antonin Artaud e salpicada de telurismo, sua poética vem sobressaltar os menos avisados.

Retomando alguns traços de Jorge de Lima e Ana Cristina César, não fica no passado mnemônico, pois seu traço lírico principal é do poeta memorialista cultural e telúrico, de perfil universalista, pois joga com o absurdo e com a persona teatral, desfazendo-se da loucura qualquer que seja, pois trabalha a arte do poema com desvario lírico musical a la Bethoven, a la Wagner, compondo uma ópera do absurdo nas memórias subjacentes.

O percurso de Artur Gomes é muito interessante e enriquece a historiografia dos poetas brasileiros contemporâneos, assim como Adriano Moura, Flávia D’Ângelo, entre outros não publicados ainda.

Vale a conferida. Estamos todos aguardando o livro de poemas O Poeta Enquanto Coisa (2019) , título que sugere a materialização da memória no poema, de grau cabralino, e que segundo o autor-poeta “o instante que nos obriga a ser memorialistas”. Certo. A memória não perdoa, ela finca a faca no peito do leitor, sem sangue, mas cheia de feridas.

Deneval Siqueira
Pós-Doutor e professor Titular de Teoria e História Literária
Centro de Ciências Humanas e Naturais
Programa de Pós-graduação em Letras - Doutorado e Mestrado em Estudos
Literários da UFES



ancestral


há muito tempo não recebo cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos
simplesmente para dizer amém
já fui católico rezei terços ladainhas
acompanhei a procissão dos afogados
na Tapera para soletrar a palavra Cacomanga
e entender que o barro da cerâmica
trago grudado na minha íris retina
meu batismo de fogo foi numa Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes e hoje saber o que são
minha África são os olhos negros
de Madame Satã
na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã


Anjo Torto

eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta

eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora

o Anjo Torto
graças a Zeus
a pedra e ao Machado de Xangô

a Capitã do Mato Caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor


Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux - 2020

www.secretasjuras.blogspot.com


Poemas Para Todas As Horas

http://bit.ly/PoemasParaTodasAsHoras

Poucos poetas contemporâneos expressam tão bem as principais bandeiras do Modernismo de 22 quanto esse vate pós-moderno. Sua poesia é política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica e sobretudo intertextual, além de dotada de uma brasilidade corrosiva, avessa ao nacionalismo acrítico que se tem espraiado pela ex-terra de “Santa cruz”.

Adriano Moura – fragmento do texto sobre O Homem Com A Flor Na Boca – livro inédito com previsão de lançamento em 2022


Disponível para compra no site www.editorapenalux.com.br
SINOPSE: Depois das excitadas e excitantes Juras secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em “O poeta enquanto coisa” [...] Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano pelas páginas turvas do mundo. [...] Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas. [...] Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica de Eros. [...] Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas) [...] Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de Baco”. [...] Artur Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, [...] se obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão dionisíaca [...] preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma poesia que roga. Trechos do prefácio de Igor Fagundes

Prezado escritor Artur Gomes,


A Diretoria da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro envia, em anexo a este, o certificado de premiação e convida para a reunião virtual que será realizada no dia 23 de Outubro às 16 h.

Atenciosamente,
Euridice Hespanhol

Diretoria social da UBE/RJ


 
linguagem


o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca

o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída

sem ter adeus na despedida

Artur Gomes Fulinaíma

do livro inédito - FULINAIMAGEM


Da Carne DA Palavra 

 por Tanussi Cardoso 


Ator, produtor, videomaker e agitador cultural, o poeta Artur Gomes tem assinatura própria. SagaraNAgens Fulinaímicas, seu mais novo livro, repleto de citações a partir do título, é a prova generosa do que afirmo: um inventário da pulsação de sua escritura, uma das mais iluminadas, entre os remanescentes da geração que se inicia nos anos 60-70.

 Mesmo mirando certa desconstrução narrativa, o autor semeia as raízes culturais, germinadas naquelas décadas, que desabrocharam como furacão em nossa arte, principalmente vindas da canção popular, com sua palavra cantada, da poesia marginal, da Tropicália, do Concretismo, do poema-postal, da poesia visual, do cinema e, mesmo, dos quadrinhos.

 Todo esse caldeirão cultural, todas essas referências e linguagens eram (são) muito próximas: Caetano, Gil, Torquato, Glauber, Leminski, Waly, Gullar, Hilda Hilst… E é desse quadro geracional (e bem lá atrás, Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, Cabral, Quintana, Mário, Oswald e Guimarães Rosa – e principalmente -, a trilogia dos malditos: Rimbaud, Baudelaire e Mallarmé, além dos ecos do mestre beat, Allen Ginsberg), é desse manancial criativo que o poeta consegue desarmar o que nele se encontra envolto, de forma atávica, e reafirmar seus próprios tempo e potência, com o refinamento de sua fala.

 Ao unir todo artefato onde exista possibilidade de poesia, Artur Gomes habita o lugar entre a palavra e a imagem, ao experimentar os sentidos que lhe chegam, sugando os afluentes existentes nas estruturas tradicionais de nossas artes, e reescrevendo-os a seu bel-prazer, num mix de nostalgia e futuro.

 “visto uma vaca triste como a tua cara:

estrela cão gatilho morro
a poesia é o salto de uma vara”

 De forma particular, o autor parece nos indicar algo que se confunde com transgressão, mas, ao mesmo tempo, mantém a linha tênue da poesia clássica, ao flertar com um romantismo de tintas fortes, e tocando, igualmente, o surrealismo, com uma violência verbal, que cheira à flor e à brutalidade. Cada poema possui sua própria respiração, pausa e pontuação emocionais. Quem não gostar de sangrar e ir fundo no mais recôndito dos prazeres é melhor não prosseguir na leitura, mas quem tiver coragem de encarar a vida de frente e se deliciar com versos saborosos e extremamente imagéticos, entre no mundo do poeta, de imediato, e sentirá a alegria de descobrir uma poesia a que não se pode ficar indiferente.

 “a língua escava entre os dentes

a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica”

 Ainda que não pretenda novas experiências formais, o autor consegue alcançar perspectivas ousadas e radicais, em vários enquadramentos linguísticos, sempre disponíveis para o espanto, já que quando falamos de poesia, tocamos em lados inexatos, onde qualquer inversão de objetividade, e da própria realidade, é sempre bem-vinda. Sua poesia tem muito da desordem, da inobservância de regras, do não sentido, e apresenta um discurso contrário a certo pensamento lógico, fazendo surgir nas páginas do livro, algumas impurezas saudáveis.

 “te procurei na Ipiranga

não te encontrei na Tiradentes
nas tuas tralhas tuas trilhas
nos trilhos tortos do Brás
fotografei os destroços
na íris do satanás”
 

SagaraNAgens Fulinaímicas nos apresenta uma peça de tom quase operístico e, paradoxalmente, para um só personagem: o Amor. E o desenho poético dessa montagem pressupõe uma grande carga lírica, alegórica e, tantas vezes, dramática, ao retratar o som universal da Paixão, perseguindo a imagem ideal dos limites do desejo. Seus versos são movidos por esse sentimento dionisíaco, e por tudo que é excesso, por tudo que é muito, como na música de Caetano. 

“te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos”
 

E indaga e responde:

 “até quando esperaria?

até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria”

 Em seu texto, há uma espécie de dança frenética, onde interagem os quatro elementos do Universo – Terra, Água, Fogo e Ar – numa feitiçaria cósmica em contínuo transe mediúnico. Poesia que é seta certeira no coração dos caretas e dos conformados, ao apontar para as possíveis descobertas inesperadas da linguagem, inebriada pela vida, pelo cantar amoroso, pelo encontro dos corpos.

 “e para espanto dos decentes

te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa”

 Dono de uma sonoridade vocabular repleta de aliterações e assonâncias, que remetem à intensa oralidade e à pulsão musical, refletindo no leitor o desejo de ler os poemas em voz alta, o poeta brinca com as palavras, cria neologismos, utiliza-se de colagens originais, e soma ao seu vasto arsenal de recursos, o uso das antíteses, dos paradoxos, das metonímias, das metáforas, dos pleonasmos e, principalmente, das hipérboles, através de poemas de impactante beleza. Esse jogo vocabular, que a tudo harmoniza, transforma a dinâmica do verso, dá agilidade, tensão e ritmo envolventes a uma poesia elétrica e eletrizante. Um bloco de tesão carnavalizante e tropical – atrás de Artur Gomes só não vai quem não o leu.

 “quero dizer que ainda é cedo

ainda tenho um samba/enredo
tudo em nós é carnaval”

 De forma lúdica e irônica, reconstrói, ou reverte, as intenções de Guimarães Rosa, quando Sagarana se mistura à ideia de paisagens e ao sentido de sacanagens; e às de Mario de Andrade – onde Macunaíma reparte seu teor catártico em poéticas folias, ou em fulias de imagens, ou seja, em fulinaímicas poesias, banhadas de caos e humor.

 “é língua suja e grossa

visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
desta língua portuguesa”

 Ao seguir de perto o conceito metafórico do processo crítico e cultural da Antropofagia, o artista ratifica seus valores, com sua língua literária, e reafirma o ato de não se deixar curvar diante de certa poesia catequisada pela mesmice e pelo lugar comum, distanciando-se da homogeneidade de certo academicismo impotente e de certos parâmetros poéticos com que já nos acostumamos. De acordo com o próprio autor, revelado em uma entrevista, SagaraNAgens Fulinaímicas é um pedido de bênção a seus Mestres, imbuído do teor catártico que sua poesia contém, como o fragmento do poema que abre o livro:

 “guima meu mestre guima

em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste”

 E afirma:

 “só curto a palavra viva

odeio essa língua morta
poema que presta é linguagem
pratico a SagaraNAgem
no centro da rua torta”

 No livro, os poemas se interpenetram, linguisticamente, libidinosos, doces e cruéis, vampiros de imagens ferrenhas, num aparente jogo de representação, onde o rosto do poeta se mostra e se esconde, de acordo com a mutação e o reflexo de seus espelhos interiores. Seus textos ora afirmam, ora desmentem o já dito, a nos lembrar um de seus ídolos, Raul Seixas, e a sua metamorfose ambulante. Sentimentos contraditórios, como se o autor quisesse, propositalmente, escorregar segredos pelos nossos olhos, ambiguamente, rindo de nós, a nos instigar: “Desnudem a minha esfinge!”

 “eu não sou flor que se cheire

nem mofo de língua morta”

 Na verdade, sua poesia apresenta vários (re) cortes, várias direções, vários abismos e formas de olhar a vida e o mundo. Como se o verdadeiro Artur se dissolvesse em outros, a cada poema, e essa dissipação o transformasse em alguém improvável, impalpável. Errante. Artur Gomes, ele mesmo, são muitos. E todos nós. Afinal, “o poeta é um fingidor”, ou não?

 “a carne que me cobre é fraca

a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta”

 Tantas vezes escatológico e sensual, numa performance textual que parece uma metralhadora giratória, o seu imaginário poético explode em tatuagens, navalhas, sangue, cicatrizes, punhais, facas, cuspe, pus, línguas, dedos, dentes, unhas, seios, paus, porra, carne, flores e lençóis, como um paraíso construído num inferno, e toca o nosso céu interior, nas ondas de um mar verde escondido em nosso peito. Na nossa melhor alma.

 Sem falsos pudores, o autor procura, em seu liquidificador de palavras, misturar o erótico, o profano e o sagrado, com cortes de cinismo e grande dose de humana solidariedade. Equilibrista na corda-bamba, sem rede de proteção, entre razão e delírio, instiga dualidades com seus versos de alta voltagem poética. Com linguagem rebuscada, seu trabalho ultrapassa os limites das páginas do livro, e reverbera como tambor, mesmo após o término de sua leitura.

 “a carne da palavra

: POESIA
l a v r a q u e s o l e t r o
todo Dia”

 A poesia de cunho social é, igualmente, referência obrigatória em seu trabalho, desde o início de sua carreira literária, marcadamente, em Jesus Cristo Cortador de Cana, de 1979, mas, principalmente, no memorável e premiado O Boi Pintadinho, de 1980. Esses poemas político-sociais, junto ao tema amoroso, também encontramos em outras obras importantes do poeta, como Suor & Cio, de 1985, Couro Cru & Carne Viva, de 1987 e 20 Poemas com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção com Sabor de Campos, de 1990, BraziLirica Pereira: A Traição da Metáforas, de 2000, e se inserem em todos os seus livros posteriores, que culminam agora em SagaraNAgens Fulinaímicas.

 Em suas viagens imemoriais, o poeta mistura São Paulo, Copacabana, Búzios, calçadas, origem, chão, mares, cactos, sertão, onde tudo sangra de maneira violentamente bela e sem volta. Só a língua a ser reconstruída em poesia.

 “ando por são Paulo meio Araraquara

a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara”

 Artur Gomes sabe que ao escritor cabe proporcionar beleza e prazer. Entende que a poesia existe para expressar a condição humana, tocar o coração e a emoção do outro, e dar oportunidade para que seu interlocutor tenha chances de conhecer-se mais e melhor. E que só há um meio de o poeta conseguir seu intento: cuidar e aperfeiçoar a linguagem. Sempre coerente, Artur Gomes sublinha o essencial de seu pensamento, ratificando em seu trabalho que as duas maiores palavras da nossa língua são amor e liberdade.

 “a coisa que me habita é pólvora

dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala”

 SagaraNAgens Fulinaímicas veio confirmar o que os leitores do poeta já sabiam: Artur Gomes é um artista instigante, um cantador que desafia rótulos. No seu fazer poético, há um desfocar proposital da realidade, onírico e cinematográfico, que mergulha em constantes vulcões, em permanente ebulição – um texto em contínuo movimento. Sua poesia metalinguística, plástica, furiosa, delicada, passional, corporal, sexual, desbocada, invasiva, libertária, corrosiva, visceral, abusada, dissonante, épica é, antes de tudo, a poesia do livre desejo e do desejo livre. Nela, não há espaço para o silêncio: é berro, uivo, canto e dor. Pulsão. Textura de vida. Uma poesia que arde (em) seu rio de palavras.

 Sobre Tanussi Cardoso

leia mais aqui: https://arturgumes.blogspot.com/2020/05/tanussi-cardoso-entrevistas.html




ARTUR GOMES – mini Bio

Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições Du Bolso – 2015), Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux – 2020 ) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020 – Tem inédito: O Homem Com A Flor Na Boca e Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras (livro de memória)

Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.

Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada pelo SESC São Paulo.

Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo Estado.

Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazes-RJ

Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e Reubes Pess.

Em 2021 lançou dois e-books – Poesia Para Todas As Horas O Homem Com A Flor Na Boca ou O Poeta Enquanto Coisa.

Desde 2007 produz performances poéticas com videopoemas. Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP. Mantém na sua página Studio Fulinaíma de Produção Aidiovisual no facebook o Festival Cine Vídeo de Poesia Falada

https://www.facebook.com/studiofulinaima

Com seu videopoema  Goytacá Boy é um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.

Em 2021 integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP e fez curadoria para o Festival Ecos – Videopoemas, realizado pelo Instituto Federal Fluminense.

www.fulinaimamultiprojetos.blogspot.com

não me peçam

poeminha agradável

com apalavra amaciante

meu ofício é liberdade

eu não sou comerciante 

*

eu sempre madrugo Jiddu as tentações não me deixam sossegado e a madrugada me ins-pira ouço as 7 sereias do longe lá em nova granada de espanha cada aranha tece a sua teia eu teço cada palavra quando a musa me arranha como bem disse hygia ferreira as sagaranagens fulinaímica são  heranças do mestre  guima  que recebi do sagarana em itaguara das minas

 nonada

 

ela me inspira

me transpira

me transborda

estico a corda

para alinhar o plumo

no rumo certo do poema

a seta no foco

o poema em linha torta

para entortar a linha reta

na argamassa do abstrato

no abstrato do concreto

sou

um vampiro bêbado de sangue

assassinei os alpharrábios

para inventar meu alphabeto

 

Artur Gomes

https://arturgomesgumes.blogspot.com/

Ofício de Poeta

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar

moinhos de vento

entre o franzir e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Editora Penalux - 2023

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nasci em agosto

a contragosto

pai não me disse

       mãe também

o preço da vida

o remédio pra ferida

o custo em cada missa

           pra dizer amém

 

Artur Gomes

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Poema Sujo
Ferreira Gullar - (fragmento)

turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos

menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas

azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).


aqui na boa viagem do recife pensei jiddu carregando seus chapéus em cabo frio nas tardes dos saberes e sabores nômades mas esqueci que hoje ele está nas minas de são joão del rey do ouro preto na noite que conheci gigi ela me trocou por artur gomes e o descarado nem me agradeceu mas o que eu queria dizer é que hoje apresentei jiddu para diana neves uma estudante de teatro que está terminando licenciatura no iff em campos dos goytacazes e concluindo o seu tcc com foco na palhaçaria

 

Federico Baudelaire

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art pop

 

macunaíma

ilumina o lobisomem

na selva de new York

 

o rato roeu ea roupa

do gênio da art pop

 

nosso samba popular

não precisa ser estar

cantando rock

 

geleia geral

 

a coisa por aqui

não mudou nada

 

embora sejam outras

siglas no emblema

 

espada continua a ser espada

poema continua a ser poema

  

pessoa

 

não tenho pretensões

de ser moderno

nem escrevo poesia

pensando em ser eterno

 

veja bem na minha língua

as labaredas do inferno

e só use o meu poema

com a força de quem xinga

 

II

rente a pele

contra o muro

eu te grafito no escuro

 

quero um poema que revele        

poesia em sua pele  


Artur Gomes

In Couro Cur & Carne Viva – 1987

Pátria A(r) mada 2022

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fome é tema de ensaio fotográfico com ossos à venda em bandejas

 

come osso menina

come osso menino

não há mais metafísica no mundo

do que comer osso

 

no açougue ou no mercado

 osso de graça já foi dado

 hoje é vendido hoje é comprado come osso maria

 come osso mané

come osso joão

com arroz e feijão quebrado

porque nesse país sem nome

 temos que comer osso

 para matar a nossa fome


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 carioca

 

baby
vamos passear
por São Conrado 
pela orla de Ipanema
olhar os dois irmãos
a gente salta pra fora do poema
dá um beijo na Rocinha
e faz amor no Alemão

 

transa o sol Copacabana

num domingo da semana

depois das Dunas do Barato

ouvindo um disco da Gal

convida Marisa Mym Mesma

para as Pimentas do Reino

no altar do Reino de Zeus

 

depois uma noite na Lapa

como sempre a cara a tapa

até espantar  fariseus

encontrar no Amarelinho

 poetas  veraCidade

que não matam  em nome de Deus

 

Artur Gomes

Do livro O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2010

Prefácio Igor Fagundes

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Mais perguntas chegando sobre o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim. Desta vez da minha querida amiga Eugenia Henriques e me remetem outras possíveis facetas do Vampiro que eu mesmo não tinha ainda atentado pra elas.  Como o livro é escrito por 12 personagens a resposta para Eugenia pode ser verdadeiramente positiva, ou pelo menos estar presente nas entrelinhas das metáforas.

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Irina ontem me perguntou se eu estava bem. Em relação a segunda sim, acho que o ofício de poeta me refaz. Enquanto isso Irina vem e vai como uma rima levada pelo vento sem tempo de captar

 

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               falsidade me irrita

contra toda moral fascista

da ignorância

nudez ampla geral irrestrita

            em abundância 

https://www.facebook.com/giginua

Balbúrdia Poética 4

 

cerveja agora

só beb0 sem álcool

lendo poema sujo

e do palco  não fujo

 

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Lady Gumes não dorme no ponto

Se digo vamos ela me diz: pronto

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ruidurbanos não tem planos

mas rasga os panos

de qualquer corpo na cidade

https://www.facebook.com/ruidurbanos

sistema fascista do face

proíbe publicações nesse grupo

por 29 dias - motivo: foto da capa da antologia Carne Viva

Antologia de Poesia Erótica organizada por Olga Savary, lançada em 1986

https://www.facebook.com/groups/1002716243126137


Apesar da saúde da máquina corporal meio baqueada vamos chegando aos 7.6. Com 51 deles dedicados a poesia, jornada iniciada em 1973 com o lançamento do livro Um Instante No Meu Cérebro, livro com poemas dedicados aos ídolos musicais da época e a máquina linotipo, na Oficina de Artes Gráficas da Escola Técnica Federal de Campos, onde trabalhei de 1968 a 1985.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Balbúrdia Poética 4 - 3 dezembro - Patuscada - São Paulo

        Balbúrdia Poética 4 

Em 2023 fui homenageado no Sarau Gente de Palavra pilotado pelos dois grandes amigos César Augusto de Carvalho e Rubens Jardim. Agora nos juntamos ao grupo Gente de Palavra e ao coletivo Rubens Jardim para realizarmos a Balbúrdia Poética 4, em homenagem a memória de Rubens Jardim e Luis Mendes. 

conversa de encruzilhada 

nos búzios sobre a mesa

vejo suas fotografias

tantas vezes

reli teus livros

dói no peito

tanta saudade

Xangô me disse

quem nasce da pedra não morre

vocês estão vivos

para sempre na lavra :  eternidade


Dia 3 dezembro 19h

Patuscada – Rua Luis Murat, 40, São Paulo-SP, Brasil

Curadoria: Artur Gomes e César Augusto de Carvalho

 

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meta metáfora no poema meta

 como alcançá-la plena

no impulso onde universo pulsa

no poema onde estico plumo

onde o nervo da palavra cresce

onde a linha que separa a pele

é o tecido que o teu corpo veste

 

como alcançá-la pluma

nessa teia que aranha tece

entre um beijo outro no mamilo

onde aquilo que a pele em plumo

rompe a linha do sentido e cresce

onde o nervo da palavra sobe

o tecido do teu corpo desce

onde a teia que o alcançar descobre

no sentido que o poema é prece 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Litteralux - 2018

em dezembro lançamento segunda edição ampliada

aguardem mais informações

https://www.youtube.com/watch?v=wIlxWXBaRW8&t=7s


engenho

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Suor & Cio – 1985

Carne Viva – Antologia de Poesia Erótica – Org. Olga Savary – 1986

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Balbúrdia Poética 4

Dia 3 - dezembro - 19h

Patuscada -Rua Luis Murat, 40, São Paulo, SP, Brazil

para Rubens Jardim e Luis Mendes in memória

Curadoria - Artur Gomes e César Augusto de Carvalho 

conversa de encruzilhada 

os búzios sobre a nessa vejo tuas fotografias tantas vezes reli teus livros  no peito dói tanta saudade : Xangô me disse : quem é da pedra não morre vocês estão vivos para sempre na palavra : eternidade


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Balbúrdia Poética 4

Dia 3 - dezembro - 19h

Patuscada -Rua Luis Murat, 40, São Paulo, SP, Brazil

para Rubens Jardim e Luis Mendes in memória

Curadoria - Artur Gomes e César Augusto de Carvalho

entre os lençóis

 

o outubro 
me deixou no tudo nada 
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono

ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas 
Amsterdã nos teus cabelos 

o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia 
nossos corpos estavam banhados

                    de vinho tinto e poesia

Artur Gomes 
O Poeta Enquanto Coisa 

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     Olga Savary - poeta, poetisa não


No blog Mostra Visual de Poesia Brasileira, estamos prestando uma homenagem a memória e a poesia de Olga Savary, por toda a sua luta em favor da poesia no Brasil. Fomos vizinhos de 1983 a 1987, quando morei no final da Rua Gomes Carneiro e início da Visconde de Pirajá em Ipanema e ela na Sá Ferreira em Copacabana.
Foram incontáveis as madrugadas que varamos saboreando vinhos e conversando sobre tudo que diz respeito a poesia. Inúmeras vezes fomos juntos aos ensaios da Mangueira, sua grande paixão. O Carnaval de 1984 assistimos pela TV em seu apartamento, jogando baralho até o raiar dia.


Gratidão eterna.

Aceita-se contribuições

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Em 1984 poemas meus foram  publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna.

Carne Proibida

 

o preço atual

proíbes que me comas

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

sou eu quem me ofereço

a ti

músculo & osso

leva-me à boca

e completa o teu almoço

 

Artur Gomes

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A poesia pulsa

para Tanussi Cardoso e Ademir Antônio Bacca

aqui

a poesia pulsa

na veia

no vinho

no peito

no pulso

na pele

nos nervos

nos músculos

nos ossos


posso falar o que sinto

posso sentir o que posso


aqui

a poesia pulsa

nas coisas

nos códigos

nos signos

os significantes

os significados


aqui

a poesia pulsa

na pele da minha blusa

na íris dos olhos da minha musa

toda vez que ela me usa

nas iguarias de Bento

quando trampo mais não troco

quando troco mas não trapo


nas pipas

nos vinhedos nos arcos

nas madrugadas dos bares

sampleando  bolero in blues

rasgado  num guardanapo

o poema pra Juliana

escrito na cama do quarto

no copo de vinho

na boca de Vênus

na bola da vez da sinuca

sangrada pelo meu taco


aqui

a poesia pulsa

nos cabelos brancos da barba

nas gargalhadas de Bacca

na divina língua de Baco

 

Artur Gomes

poema escrito em Bento Gonçalves-RS -outubro de 2015 e publicado no livro O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

Congresso Brasileiro de Poesia 

Em setembro de 1990 eu estava na cidade Paulista de Registro, participando do Encontro: Brasil Cultura & Resistência, evento organizado pela UBE-SP. Depois dos afazeres dia, me recolhi ao quarto do Hotel e enquanto escrevia o poema EntreDentes, inspirado em uma piracicabana que havia conhecido durante o dia, ouço batidas na porta. Era Ademir Antônio Bacca, que me presenteava com alguns exemplares da Coletânea Poesia do Brasil, e me convidava para a primeira edição do Congresso Brasileiro de Poesia que iria ser realizado em Nova Prata-RS.

Minha agenda de trabalho não me permitiu ir as duas primeiras edições do evento em Nova Prata. Em 1996 o Congresso Brasileiro de Poesia passa a ser realizado em Bento Gonçalves-RS, e lá estava eu pela primeira vez, e nem poderia imaginar que dali  cresceria  uma amizade que me permitiu durante os 20 anos de evento realizado em Bento até 2016, a propor e criar ações com poesia multilinguagens que me abriria percepções que mantenho na minha escrita até os dias atuais. 

O Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves, foi aos pocuos se transformando na maior festa da poesia brasileira contemporânea e latino americana. Um encontro de poetas de múltiplas línguas e linguagens, que se revezavam, em performances, nas Escolas, nas praças, no saguão da prefeitura, no próprio hotel  onde ficávamos hospedados, nos hospitais e no hospício. 

Sem dúvida, Ademir Antônio Bacca, é um dos maiores promotores da poesia no Brasil e o Congresso Brasileiro de Poesia, foi em sua trajetória aos poucos se tornando a grande Balbúrdia Poética. E essa maravilhosa ideia do Jiddu Saldanha em homenageá-lo nesse e-book tem todo o meu apoio e aplauso.  

meu santo daime um querubim e leve federico baudelaire de volta pra iriri meus cardápios são familiares a tempos estou em greve de sexo  e o endomoniado e satânico não me dá sossego nem com poema de fernando pessoa já apelei até para a bahia de todos os santos jorge amado ogum oxumaré fiz despacho pra iansã na boa viagem flores pra yemanjá e o bendito não sossega apela pra rúbia de nada vale ela também não quer mais o rejeitado lá mergulhando em suas águas

Federika Lispector

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afio ainda mais a carNAvalha em cada trilha em cada tralha fora do trilho pra não ser atropelado por algum trem descarrilhado o poema ainda mais faca amolada  cada palavra um tiro oculto sem bala perdida só bala encontrada

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   da oficina de teatro

quando mudei pra Itabira

depois de Iriri

agora mudo por aqui

sem federika ou querubim

quase morto de desejos

sem uma alma para um beijo

peço clemência ao serafim

vou me mandar pra porto rico

deixo no ar esta pergunta:

qual das duas eu levo

com qual das duas eu fico

 

Federico Baudelaire

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com meu olho gótico TVendo enquanto o teu me trans pira pelos poros poemas ainda não escritos os ruídos os silêncios falas palavras que mesmo não saindo de tua boca vão ficando na retina e fotografadas na pele da memória  

Por Onde Andará Macunaíma?

              jogo de dadaísta não sou iluminista/nem pretender eu quero o cravo e a rosa cumer o verso e a prosa devorar a lírica a métrica...